Gestação de uma mulher Autista
O que para muitas mulheres pode ser algo maravilhoso, para uma mulher Autista, a gestação pode ser vivenciada com muitos desafios.
Hoje gostaria de falar um pouco sobre Gestação e Autismo. É estranho pensar que muito pouco se fala sobre a mulher Autista. Sim, ela foi uma criança Autista, que cresceu!
“Eu sentia o meu sangue fluindo por todas as minhas veias, em um fluxo contínuo, que me trazia uma sesação de profundo desconforto"
Ao voltarmos o nosso olhar para o feminino, nos depararamos com um universo repleto de questões que envolvem sensações únicas, profundas e transformadoras, como a capacidade de gerar uma vida!
Mas como será que uma mulher Autista lida com essas sensações? Você já parou para pensar nisso? Quais sensações uma mulher autista vivencia ao longo da gravidez?
Venho acompanhando algumas mulheres em processos terapêuticos e com isso, tenho pesquisado e pensando muito sobre essa questão tão linda e ao mesmo tempo, delicada, da maternidade vivenciada por uma mãe Autista.
Eu sou uma mãe Autista, e tive a oportunidade de vivenciar duas gestações, de forma muito intensa. A grande questão é que durante as minhas duas gestações, eu ainda não tinha o meu diagnóstico, portanto eu não sabia que era Autista.
Pensando na singularidade de cada um, seja Autista ou não, não há como descrevermos uma regra sobre os tipos de sensações, que uma grávida pode passar, mas hoje gostaria de levantar algumas questões que considero importante, para fazermos uma refexão; afinal as mães Autistas, gestantes ou puérperas, precisam ser acolhidas em suas demandas.
No autismo, o sistema sensorial é um dos aspectos que mais oferece desestrutura, por conta de hiper ou hipo sensibilidades e do Ruído Branco. Estamos falando sim, dos nossos cinco sentidos, e num processo gestacional, eles podem ficar bem exarcebados.
- Vamos começar pelo Tato que é o nosso principal aspecto sensorial. O corpo se modifica muito durante as 10 semanas em que o bebe esta sendo gerado. A pele estica, a textura muda, ha nescessidade de passar óleos ou cremes que nem sempre são bem aceitos pela Autista, pode gerar um profundo desconforto com a textura dos produtos na pele. A barriga cresce, o seio aumenta, as roupas não cabem mais. São muitas transformações!
- O olfato é sensivelmente estimulado nesta fase; muitas mulheres enjooam só de sentir um cheiro diferente. Imagine uma mulher Autista, com hiper sensibilidade olfativa...gera muitos episódios de vômito, sensação de desmaio, dificuldade de se alimentar por conta do cheiro dos alimentos, afastamento do parceiro por não suportar o cheiro da pele, do suor, do perfume...
- O paladar muito ligado ao olfato, pode trazer tambem muitas sensações nem sempre agradável. Há desejos e repulsas pelos sabores e texturas dos alimentos. Se estivermos falando de uma mulher Autista que já apresentava em sua história pregressa, uma seletividade alimentar, isso pode ser um problema maior durante o período gestacional, aonde há a nescessiadde de complementação de nutrientes, para a formação saudável do bebe, e da saúde da mãe.
- A audição quando hiper estimulada, gera muitos desconfortos. Alguns Autistas podem ter hiper ou hipo sensibilidade sensorial, outros Autista tem o que chamamos de Ruido Branco, que é a capacidade de sentir tudo o que acontece em nosso corpo interno; ruídos da circulação, pulsar do coração, sessações internas....Isso em uma gestante Autista, pode ser altamente desestruturante. Imaginem sentir tudo o que acontece em seu corpo! Agora pense nisso acontecendo durante um longo período, enquanto o bebe esta sendo gerado. São muitos desconfortos que podem surgir.
A visão da mesma forma, pode se apresentar nestes três aspectos, e claro que na gestação ha uma mudança visível no corpo da mulher. Olhar e não se reconhecer, ter dificuldade de olhar, ou ter uma visão distorcida do real, pode ser vivenciado tambem por uma mulher Autista.
Cada mulher vivência a gestação de uma maneira muito única!
Acho importante ampliarmos o nosso olhar e pensarmos sobre todos esses aspectos que fazem parte da experiência de uma mãe autista. Eu trabalho na clínica psicanalítica já ha mais de 17 anos e quando tive meu diagnóstico, não pensei duas vezes, em falar, me posicionar, para que possamos ter voz, quabrar tabus, barreiras sociais, e mostrar que sim, sou neurodiversa, e isso faz parte da minha constituição.
Muitas mulheres a partir disso, puderam tambem falar sobre si, já que em sua maioria, elas não foram diagnosticadas na infância, e sim na vida adulta. Dou palestras e cursos para profissionais da sáude que buscam também entender um pouco mais sobre o Autismo, através da vivência de uma mulher adulta como eu, e sim, isso faz muita diferença, porque não é uma mãe, um pai ou um médico que esta falando sobre o autismo, mas sim, o próprio autista.
E para terminar este texto, te convido a compartilhar com outras pessoas que você acredita que possa ajudar. E quando se deparar com uma mulher Autista que estiver gestando, tente perceber se ela esta precisando de alguma coisa, ou se ha algo que a incomoda, e sempre que possível, acolha com amor a experiencia dessa mulher!
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